terça-feira, 14 de junho de 2011

Resultados e discussão

Foram realizadas doze entrevistas com docentes da FCE, com duração média de 20 minutos e 98 segundos, utilizando 34 perguntas orientadoras. Ocorreram nas dependências da própria faculdade, muitas vezes com várias pessoas por perto.
5 moram em águas claras, 1 no lago norte, 1 no lado sul e uma na asa norte.
Todas são brasileiras, e tem naturalidade de ES, DF, RS, PI, GO.
Tem o período de docência de 1 mês a 3 anos. Apenas uma não foi docente em outra instituição
As características mais faladas relacionadas a influência para chegar ao atual nível de formação foram: curiosidade, gostar de estudar e persistência.7 falaram que estas características independem de sexualidade. Duas professoras colocam como características femininas a realização de multifunções e gosto pelo o estudo sendo que os homens são mais empurrados.


A característica de realizar multifunções é considerada uma questão fundamentalmente relacionada à gênero. Podemos relacioná-las com esse trecho do texto: “A evolução da mulher no mercado de trabalho” de Elisiana Renata Probst.:

As mulheres sofrem mais do que os homens com o estresse de uma carreira, pois as pressões do trabalho fora de casa se duplicaram. As mulheres dedicam-se tanto ao  trabalho quanto o homem e, quando voltam para casa, instintivamente dedicm-se com a mesma intensidade ao trabalho doméstico. Embora alguns homens ajudem em casa, não chegam nem perto da energia que a mulher tende a dar. (PROBST, Elisiana )

Quando questionadas se as características necessárias para ser cientista, são masculinas ou femininas, Dália afirma que são de: ‘’ambos, de forma diferente’’. Relacionamos com o texto de Maria Luiza Heiborn:

‘’O conceito de gênero existe, portanto, para distinguir a dimensão biológica da social. O raciocínio que apoia essa distinção se baseia na ideia de que há machos e fêmeas na espécie humana, mas a qualidade de ser homem e ser mulher é realizada pela cultura...
A antropologia sustenta que, em se tratando da cultura, a dimensão biológica da espécie humana fica bastante obscurecida por que é próprio da condição desses seres a capacitação cultural como essencial à sobrevivência. É a cultura que humaniza a espécie e o faz em sentidos muito diferentes’’ (HEIBORN, Maria Luiza).


A resposta da Dália justifica-se pela visão de HEIBORN, onde mostra que a própria cultura dita que as formas de agir devem ser diferentes, por exemplo, a própria sociedade influencia a meninas brincarem de bonecas, e meninos de carrinhos, assim, consequentemente as meninas terão mais habilidades para certas coisas, enquanto os meninos para outras.

Outra entrevistada, Flor-de-Liz, abordou outro ponto: ‘Nem femininas, nem masculinas, são características de pessoas...’’. Esse aspecto correlaciona-se com a visão de TEIXERA:

Pela visão de Teixeira (1998) não há evidências históricas ou científicas conclusivas ou confiáveis que confirmem diferenças de habilidade de aprendizagem entre meninas e meninos. Apesar de que frequentemente, elas são desqualificadas como profissionais, enfim, identificadas como excessivamente sentimentais, desfocadas, incompetentes (TEIXEIRA, 1998), diferentes dos homens. 
Das entrevistadas, metade sempre quis ser mestre, doutora ou pós-doutora. E 10 professoras citam o aprendizado como fator importante para atuação na ciência. E com esse dado, achamos interessante essa fala de Maria Inez Montagner:

Como a identidade é uma construção, não se nasce com determinadas características marcantes e definidoras do comportamento feminino, como dizia Beauvoir (1980). As relações pessoais, as instituições pelas quais passaram são formadoras de uma identidade feminina, bem como a educação, o trabalho, a família serão os espaços onde as características do gênero se desenvolvem e passam a orientar atitudes e aspirações.’’ (MONTAGNER, 2007)


Quanto as dificuldades que essas mulheres passaram durante a vida acadêmica, destacam-se: acumular funções, doença, conciliar estudo e trabalho, e as dificuldades inerentes da própria pesquisa. 8 professoras adiaram sua formação por algum motivo. Os mais falados foram: filho, entrada no mercado de trabalho, ao invés de dar continuidade aos estudos,acompanhar o marido, e gravidez.

Quando questionadas se já haviam sofrido algum tipo de preconceito, 50% afirmaram que sim, e destes, 33% eram relacionados ao gênero. E ainda, 4 professoras afirmaram já ter presenciado algum discriminatório com mulheres.

Com relação à realização em suas vidas profissionais, as professoras consideram-se realizadas em sua maioria, nos 2 casos em que não há total realização, o motivo se trata da postura dos alunos e da mudança de área entre atuação e formação.
Como nossa amostra se restringe a profissões de saúde e pedagogia, só podemos afirmar que nesse meio, e mais especificamente na FCE, há predomínio de mulheres nas vidas acadêmicas, porém são raras as professoras que optaram por ter preferência em trabalhar com homens e nenhuma delas disse preferir dar aula para um dos sexos em específico.
Elas concordam que para ocupar um cargo de direção é preciso um perfil, algumas delas já ocuparam, algumas ocupariam mas não tem pretensão, outras nunca ocuparam e não tem pretensão.
A maioria delas considera que o aumento do número de mulheres dentro da academia de certa forma mudou a forma de fazer ciência. Com uma humanização maior, um olhar diferenciado, promovendo uma gestão diferente; impactando; com uma maneira feminina de ver, com um toque especial; ampliando os temas; ou trazendo o estudo do gênero.
Somente uma das entrevistadas não acha importante a discussão sobre gênero dentro das universidades, uma delas não sabe e considera que há outros pontos mais importantes a serem discutidos, duas consideram importante discutir assuntos, não especificamente por ser gênero, e a grande maioria, acha sim importante discutir o fato, pela ainda existente diferenciação de salário, principalmente em redes particulares; por ser um tema pouco discutido e para acabar com preconceitos.
Cinco professoras são casadas e tem filhos, três não adiaram seus casamentos ou a vinda de filhos por motivos acadêmicos ou financeiros, duas delas adiaram a vida acadêmica e outra atrasou um ano por engravidar. Duas adiaram, uma delas esperou durante cinco anos para ter sua filha, pois estava cursando doutorado.
           Quanto a auxílio nas tarefas domiciliares todas recorrem a ajuda, principalmente de empregada doméstica e babá, e algumas vezes das mães. 
            Quanto a relacionar a maternidade e o trabalho profissional uma delas considera que é um fato normal, não sabe se se dedicaria mais se não fosse mãe, considera que são duas dimensões da vida com lugares próprios e o segredo é como uma não invade a outra. A Lírio gostaria de ter mais filhos, mas é difícil administrar os dois, ambos exigem dedicação muito grande. A girassol vê como um esforço sobrenatural, a maternidade com um peso muito grande. A orquídea diz que tem que saber conciliar porque professor leva trabalho pra casa, de um jeito pra vc não sobrecarregar nenhum nem outro, em algumas circunstâncias tendo que priorizar um ou outro. A tulipa diz que tem-se que cumprir com os dois, e que deveria ter no currículo um espaço para número de filhos e data da gestação. 
             Somente uma é solteira e tem filhos, ela não adiou seu casamento ou a vinda de filhos por motivos acadêmicos. Diz que seu filho não reclama mais de sentir falta da mãe. E quando ela precisou de ajuda, recorreu a uma diarista.

             Apenas uma das professoras é divorciada e tem uma filha, ela não adiou seu casamento mas isso a trouxe muitos problemas, muito transtorno. Ela acha difícil relacionar maternidade e trabalho, um desdobramento.
             Duas das professoras são solteiras e sem filhos. Uma delas relata que a escolha da profissão e a sua atual formação atrapalha sim os relacionamentos e a outra diz achar que não, apesar de professores terem que dedicar um tempo a mais.           
             Para todas as mulheres casadas e sem filhos a escolha da profissão e a formação obtida ajudaram em seus relacionamentos, pois seus maridos eram da mesma área, às vezes também estavam estudando, então sempre apoiaram. Até hoje eles entendem a dedicação das professoras para sua profissão. Hoje em dia elas não recebem mais ou recebem a mesma quantidade de seus maridos, uma delas relata que quando recebia mais nunca houve problemas.

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