terça-feira, 14 de junho de 2011

A ditadura do relógio biológico

Elas fizeram uma opção. Terminar a faculdade, conseguir um bom emprego e só ter filhos depois de chegar ao auge da carreira. Mas agora percebem que o êxito profissional pode ter lhes custado caro demais. Hoje na faixa dos 40 anos, não conseguem ter um bebê. O drama das mulheres bem-sucedidas no trabalho e frustradas na maternidade é tema de um livro recém-lançado nos Estados Unidos –         Creating a Life: Professional Women and the Quest for Children (Criando uma Vida: Mulheres Profissionais e a Busca por Crianças). No livro, que rendeu uma matéria de capa na revista Time, a autora Sylvia Ann Hewlett, economista da Universidade Harvard, traça um perfil alentado dessa legião de arrependidas nos Estados Unidos. Depois de ouvir 1 200 mulheres de sucesso, ela constatou que muitas não ficaram grávidas por acreditar que seria fácil tornar-se mãe na idade madura. Sylvia também verificou que essa crença começa a ser sedimentada ainda na juventude. Nove de cada dez americanas na faixa dos 20 anos acham que manterão sua capacidade reprodutiva praticamente intacta quando tiverem o dobro da idade atual
É um equívoco e tanto. O relógio biológico feminino anda a uma velocidade bem maior do que se imagina. A chance de uma mulher engravidar começa a diminuir quando ela tem apenas 27 anos. Aos 30, a cada relação sexual em período fértil, o índice de gravidez é de 18%. Aos 45, de 1%, no máximo. Um estudo do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, o prestigiado CDC, mostra que, ao completar 42 anos, uma mulher tem menos de 10% de possibilidade de engravidar com seus próprios óvulos. Graças aos avanços da medicina reprodutiva, a gravidez depois dos 40 não é um sonho impossível. Mas em boa parte das vezes só é realizável quando a paciente recebe óvulos doados por uma mulher mais jovem. Esse é o caso de muitas celebridades quarentonas que, ao exibir seus barrigões em público, ajudam a fixar a idéia errônea de que é fácil engravidar não importa a idade.
A gravidez tardia está se transformando numa questão de saúde pública nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, uma em cada cinco mulheres entre 40 e 44 anos não tem filho – o índice praticamente dobrou nos últimos vinte anos. Campanhas estão sendo feitas para tentar reverter a tendência de adiar  a chegada de um bebê. Pouquíssimas mulheres sabem dos riscos de uma gestação em idade avançada e dos transtornos que as incessantes tentativas de fertilização causam na vida de um casal. Elas também desconhecem que problemas associados à passagem do tempo, como miomas no útero e calcificação  das artérias, podem prejudicar a gravidez. Os médicos alertam ainda que, entre as que demoram demais para engravidar, o perigo de o bebê nascer com alguma anomalia genética é alto. Motivo:         90% dos óvulos de uma mulher de 42 anos apresentam anormalidades.
Como, então, conciliar ascensão na carreira e maternidade no tempo certo? Sylvia Ann Hewlett, é claro, não propõe que as mulheres renunciem às suas ambições e voltem à condição de "rainhas do lar". A autora de Creating a Life... sugere que as mulheres se empenhem ao máximo em suas carreiras, mas, atingido um determinado nível, dêem um tempo na profissão e redirecionem sua vida para o plano pessoal. "Depois elas podem voltar a investir sua energia no campo profissional", propõe Sylvia. Muito bonito, porém irreal. Não importa se homem ou mulher, quem deixa o mercado de trabalho encontra dificuldades quase intransponíveis para voltar a ocupar o mesmo posto. Isso porque, assim como o relógio biológico, o do mundo profissional também anda acelerado.         

Fonte: Veja Online   


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