terça-feira, 14 de junho de 2011

Reportagem: Mulheres e o mercado de trabalho

Parabéns, garota, você chegou lá. O horário de trabalho é puxado, o nível de exigência é alto, mas o salário vale o esforço e são boas as chances de fazer carreira. Só falta enfrentar o último desafio: como encaixar um bebê chorão nesse belo esquema profissional. O modo certo de balancear trabalho e vida familiar é a questão que atormenta as mulheres desde que elas começaram a disputar bons empregos, há pouco mais de duas décadas – e ainda não se encontrou a resposta. É uma maldade da natureza com as mulheres que os melhores anos para a construção de uma carreira coincidam com os melhores anos para ter filhos. Há aquelas que simplesmente adotam o modelo masculino de deixar tudo o mais de lado e se concentrar na carreira. É uma atitude que pesa no futuro.
 É verdade que se pode viver perfeitamente sem filhos, sobretudo se o trabalho é envolvente e gratificante. Mas é natural que pessoas sem prole cheguem à velhice com a sensação de um buraco afetivo em sua vida. As mulheres têm durante a vida afetiva e profissional vários momentos de decisão, dos quais os homens estão a salvo. Até bem pouco tempo atrás, ao chegar ao final da adolescência, elas escolhiam entre cursar uma faculdade e casar e ter filhos. Tal dúvida saiu de moda. Primeiro, porque elas entraram em massa no mercado de trabalho. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se casa entre 24 e 29 anos. Ou seja, a decisão crucial – investir na carreira ou na vida pessoal. Tornou-se comum adiar o casamento ou a maternidade para se dedicar ao trabalho e aos cursos de pós-graduação e MBAs. O resultado é um novo momento de decisão na virada dos 30 anos. É um dos períodos mais importantes da vida profissional para homens e mulheres. É uma idade em que se costuma ocupar cargos intermediários de gerência, e a maioria está casada. Para muitas mulheres, é a hora de a carreira deslanchar. Volta então à dúvida sobre ter ou não filhos. Do ponto de vista econômico, é um bom momento para a maternidade: as finanças estão estabilizadas e o trabalho ainda não exige a dedicação exclusiva dos escalões mais altos. Mas ter um filho pode significar para a mulher uma redução nas possibilidades de ascensão no emprego. Outras antecipam a volta da licença-maternidade, com medo de perder o espaço conquistado. A VEJA consultou 100 das 500 maiores empresas do Brasil e praticamente todas (97%) têm mulheres em algum tipo de cargo de chefia. A presença feminina se faz visível na diretoria de metade delas, mas as mulheres são minoritárias entre os melhores salários. Do ponto de vista da educação, as mulheres estão preparadíssimas para o desafio profissional. Nos últimos 25 anos, comparativamente aos homens, as brasileiras adquiriram mais escolaridade. A vantagem feminina pode ser verificada pela parcela de mulheres entre as pessoas com nove anos ou mais de estudo: 55%, contra 45% de homens. De todos os brasileiros que terminam a universidade, 56% são do sexo feminino O grande nó parece estar mesmo no modo como a mulher se relaciona com a própria família – a hora em que se opta pelo mergulho no trabalho ou no lar. Um estudo recente da Organização Mundial de Trabalho em mais de quatro dezenas de países apontou a divisão de tempo entre profissão e família como o principal fator da diferença de cargos entre homens e mulheres. Em geral, conciliar trabalho com crianças pequenas exige das mulheres boa estrutura de apoio, com babás, creches ou uma avó solícita. A pressão sobre as mulheres que pensam em ter filhos não é distribuída com igualdade por toda a cadeia hierárquica. Quem detém maior responsabilidade sofre mais. Em nome da carreira Na decisão sobre ser mãe ou executiva de sucesso pesa também outro fator moderno: as mulheres não querem voltar para a rotina do lar. A condição de dona-de-casa, que "esquenta a barriga no fogão e esfria no tanque", não tem reconhecimento no mundo de hoje. Um estudo americano mostra que as mulheres gostam de trabalhar fora porque as recompensas no âmbito profissional são mais palpáveis que as obtidas no ambiente doméstico. "Duas décadas atrás, as mulheres iam trabalhar para ajudar nas despesas. Hoje, ter sucesso fora de casa é uma realização pessoal, e não apenas um apêndice econômico", explica Christina de Paula Leite, professora da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e autora de um livro sobre o assunto.
Fonte: adaptado de: CARELLI, Gabriela. Com filhos no currículo. Veja on-line. Disponível em:< http://veja.abril.com.br/120203/p_058.html>. Acesso em:11 maio 2011.

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